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Contos-->Como Anjos e Demônios -- 30/03/2000 - 17:44 (Trinith Brooks) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Como Anjos E Demônios
"Por amor eles morreram... E por amor, para sempre viverão."



"Eles nunca irão nos separar!"
Seus olhos se abrem, de repente, no meio da escuridão. A garota se senta na cama e acende o abajur. Sua respiração ainda estava ofegante. A imagem do par de olhos claros e tristes, as duas mãos com os dedos entrelaçados e sangue escorrendo entre elas lhe pareceu tão assustador. Não entendia porque estava tendo aqueles sonhos ultimamente. Olhou para o relógio, já eram seis e meia. Precisava levantar-se para ir á escola.
Possuía um rosto sereno e tímido, seus olhos eram claros, sua pele alva, seus cabelos cacheados e compridos, cor de ouro. Usava roupas claras, o que lhe dava um tom angelical. Muitos garotos na escola queriam tê-la. Tê-la mesmo, porque aquela era uma escola onde os garotos se achavam garanhões que possuíam suas mulheres para satisfação própria. Mas era impossível. Ela era a mais pura das garotas jamais vistas.
- Anne! Venha! - Disse uma de suas amigas.- Quero te apresentar o menino mais lindo da escola! Anne, este é Allan.
Allan era um rapaz loiro, de olhos castanhos. Era alto e forte, de pele branca.
Um sorriso tímido se abriu por entre os lábios da jovem.
- Você é uma garota muito bonita, sabia disso?
Uma expressão de seriedade se deu em seu rosto.
- Sinto muito. Não serei mais uma para seu harém.- e pôs-se a caminhar em direção á sua sala.
- Espere Anne!- Sua amiga correu para junto dela.- O que aconteceu? Nunca lhe vi assim...
Entrando na sala, sentaram-se e Anne começou a falar.
- Tive um daqueles sonhos de novo. È como se alguém estivesse tentando me dizer algo.
- Não se preocupe com isso! Você precisa se divertir um pouco para esquecer isto. Vamos, vai haver uma festa numa boate aqui perto, á noite.
- Está bem.

# Cemitério de NY 23:37h

Do centro do cemitério, um facho de luz é irradiado de um sarcófago. Sua tampa se abre e um vulto sai de dentro dela, andando com calma.

# Boate

Judy, a amiga de Anne, era latina, possuía um corpo esbelto, e estava dançando no meio de vários garotos. Anne estava sentada, olhando e sorrindo. De repente, uma voz lhe veio por trás, dizendo:
- Você tem um sorriso muito bonito.
Era Allan. Ele a segurou com força pelo braço e a puxou. Ao chegar perto do rosto dela, Allan disse em tom ameaçador:
- Ninguém me joga fora assim!
- Por favor, me solte.- Disse ela, tentando se soltar.
- Agora você é minha!
- Solte-me!- Gritou ela, fazendo um movimento brusco para baixo, com os braços. Como se alguma coisa o tivesse atingido, Allan voou longe. Uma lágrima rolou do rosto de Anne, que se encolheu, como se quisesse esquentar a si mesma. Todos na boate estavam parados, olhando para a cena. Judy correu em direção á Anne e a acolheu dizendo:
- Vamos embora...Você deve estar cansada.
Chegando em casa, Anne se sentou no sofá junto com Judy. Estavam assistindo o noticiário da madrugada. A repórter estava dando a notícia do sarcófago antigo do cemitério que havia sido violado.
Ouvindo isso, uma imagem apareceu em frente a Anne, como se fosse uma lembrança. Era a cena de soldados separando um anjo e um demônio, que estavam de mãos dadas fortemente, tentando não se separarem. E o anjo gritou ao não conseguir mais segurar a mão do demônio:
- Tristan!
O anjo possuía cabelos longos e cacheados, com uma coroa de flores. Tinha um par de asas maravilhosas em suas costas. Usava um vestido longo e esvoaçante.
O demônio tinha um cabelo preto e liso, com uma espécie de manta preta e possuía um par de asas negras, como asas de dragão.
Anne voltou ao normal, mas estava assustada e com a respiração ofegante. Judy, á acudindo, perguntou o que havia de errado, e Anne disse que acabara de ter uma visão.
- Tome um calmante...Você precisa descansar. Teve um dia muito agitado hoje.
Anne estava em frente ao espelho, escovando seu longo cabelo. Então uma voz, como um eco, chegou ao seu ouvido, dizendo:
- Eles nunca irão nos separar. Estaremos juntos... Para sempre, meu amor. - E um rapaz, igual ao demônio, apareceu no espelho, com a mão estendida em sua direção, como se quisesse tocá-la. Ela instintivamente levantou sua mão em direção á dele. Como se sua mão tivesse atravessado o espelho, ela encontrou a mão dele, que se entrelaçaram. Uma sensação de paz tomou conta de Anne. Como se um espírito estivesse ali, ele a colocou deitada em sua cama, alisou seus cabelos e disse:
- Descanse. Amanhã tudo voltará a ser como antes. - E as luzes se apagaram. Anne dormiu em paz. Nem se lembrou que no dia seguinte era seu aniversário.
Ao acordar, de manhã, encontrou um maravilhoso buquê de rosas vermelhas e brancas, em frente ao espelho. Será que aquilo que havia acontecido era verdade? Não importava.
Anne foi para a escola com uma leveza no coração. Uma leveza tão grande que chegava a contagiar as pessoas que passavam por ela. Ao chegar na sala, foi surpreendida com uma grande comemoração em homenagem aos seus dezoito anos. Logo depois, contou para Judy o que havia acontecido na noite anterior. Judy ficou super feliz, pois havia muito tempo que Anne não tinha um sonho assim.
O sinal tocou. Era hora da saída. Os alunos estavam reunidos em grupos no pátio, conversando. Outros alunos se dirigiam em direção á saída.
Do meio da multidão um rapaz de cabelos pretos, um paletó, calça e camisa pretos e óculos escuros andava em direção contrária. Sua beleza era tão estonteante que todas as garotas que o viam ficavam imóveis, como se ele as hipnotizassem. Como era possível tamanha beleza?
Judy, vendo o rapaz se dirigindo a elas, disse a Anne:
- Meu Deus! Olha a maravilha que está vindo para cá!
Anne se virou, e assim que viu o rapaz, ficou quase que hipnotizada. Ele existia? Anne começou a andar em direção a ele.
- Onde você vai Anne?
Mas ela não ouviu. Nada mais existia para ela.
Eles pararam a uma distância de cerca de um metro de distância um do outro. O rapaz tirou os óculos e deixou-se ver seus belos olhos verdes. Levantou o braço com a palma da mão aberta em direção a Anne e disse:
- Tudo voltará a ser como antes.
Anne levantou sua mão, em direção á dele, e assim que a tocou um raio de luz tomou conta de todo lugar. Quando Anne abriu os olhos, se viu em uma paisagem totalmente diferente.
- Tristan?
- Venha. Vou lhe mostrar quem realmente somos.
Anne se viu em um lugar escuro, com um céu coberto de nuvens escuras, que não paravam de se mover em forma de redemoinhos.
- Estas são as trevas...Foi aqui que nos conhecemos.- Ele apontou para a base de um rochedo.
Ela viu um anjo ajudando um demônio a se levantar.
Logo que os viu, reconheceu que eram os mesmos da imagem da noite anterior.
- Eles são nós?
O rapaz a olhou com ternura e logo mudaram de lugar. Agora estavam em um jardim de grama verde e árvores de grandes sombras. Anne viu as mesmas duas figuras brincando. O anjo se escondia atrás das árvores enquanto o demônio corria atrás dela. Os dois estavam felizes, sorridentes. O demônio conseguiu pegá-la e os dois caíram na grama. O anjo estava deitada, virada para o céu, e o demônio debruçou-se em cima dela. Seus rostos sorridentes agora estavam sérios. O demônio, com muito carinho, deslizou sua mão pelo rosto dela. E começou a aproximar seu rosto do dela. Quando seus lábios iam se tocar, a cena mudou.
Estavam novamente nas trevas. Viram o anjo e o demônio correndo, fugindo de raios que tentavam acertá-los. O demônio, tentando proteger o anjo dos raios, a cobriu com suas enormes asas. Mas um dos raios atingiu uma de suas asas.
Eles se abrigaram em uma caverna. O anjo, com muita ternura, cuidou da ferida do demônio. Logo depois, os dois fizeram um corte em suas mãos e as entrelaçaram. O demônio disse:
- Estamos juntos eternamente. Podem nos matar, mas nunca irão nos separar.
Novamente mudaram de cena. Agora uma grande confusão estava se formando. Anjos de um lado, demônios do outro. Ambos desaprovavam a atitude do anjo e do demônio apaixonados. Estavam abraçados fortemente, chorando, mas os soldados os separaram. De repente, Anne se viu no sonho que havia tido poucos dias trás.
Eles voltaram para o pátio da escola. Anne ouviu a voz de Judy:
- Você o conhece?
Anne pôs-se a chorar. O rapaz a confortou:
- Não chore, meu doce amor. Agora estamos juntos novamente.
Anne abraçou fortemente Tristan, dizendo:
- Sei que nosso destino já está traçado, mas não me importo. O destino pode ser mudado! Sei que um dia conseguiremos.
Anne estava cansada. Tristan a pegou no colo e começou a andar em direção á saída. Anne se aconchegou em Tristan. Sentia uma sensação de segurança nos braços dele.
Judy, meio perdida, disse:
- É...Mais tarde eu passo por lá, tá?
- Tudo bem, amiga.
- Faça isso, Judy. De hoje em diante ela precisará muito de sua ajuda.
Tristan, chegando á casa de Anne, subiu as escadas até chegar ao quarto dela. Retirou a colcha que cobria a cama, deitou Anne e a cobriu novamente. Seu rosto era tão sereno quando dormia. Sentou-se ao lado da cama e ficou horas a observá-la dormindo.
Quando era quase oito e meia da noite, ele se levantou e se dirigiu á cozinha. Anne deveria estar com fome quando acordasse. Parecia conhecer bem a casa. Fez uma sopa que ela mesma havia lhe ensinado no passado. Colocou em uma bandeja com uma rosa vermelha junto.
Quando estava passando pela sala para levar a bandeja até o quarto de Anne, a campainha tocou. Tristan colocou a bandeja sobre a mesa e abriu a porta:
- Bem vinda à nossa casa, Judy.
- Nossa? Você está morando aqui com ela? - Perguntou Judy um pouco assustada com o que Tristan havia dito.
- Venha. Estou levando esta sopa para ela. Lá em cima lhe explicarei o que está acontecendo.
Subiram até o quarto de Anne. Ela ainda estava dormindo. Parecia estar sonhando. Tristan colocou a bandeja sobre a escrivaninha.
- Sente-se, Judy. Sei que conhece este quarto muito bem.
Antes de ir falar com ela, se abaixou ao lado de Anne, afastou uma mecha de cabelo que estava sobre seu rosto e lhe deu um beijo na bochecha. Depois, se virou para Judy e disse:
- Lhe contarei esta história porque sei que Anne confia muito em você e sei que você é uma verdadeira amiga dela.
- Certo. Mas quem é você afinal?
- Você pode não acreditar , mas tudo que vou lhe contar é verdade. Tudo começou a muito tempo atrás, em uma época em que o homem ainda não existia...- E pôs-se a contar a história deles.
Ao terminar, Judy perguntou:
- Mas Anne sempre foi tão sozinha. Por que você só veio agora?
- Mesmo sem saber, ela sempre esteve se guardando. Ela sempre acreditou em amor eterno. E eu só cheguei agora...- Tristan hesitou por um momento. Parecia ter vergonha do que ia falar. Estava procurando as palavras certas.
- Quero que estejamos juntos por toda eternidade.. Hoje Anne chegou á idade certa para que possamos realizar a união eterna...- Hesitou mais uma vez.
- O fruto desta união seria um filho. Após isso, seremos um só por toda eternidade. Nossa alma estará sempre viva e unida acompanhando nossos descendentes.
Judy estava um tanto assustada com tudo. Sua querida amiga havia passado por tudo aquilo e ainda não desistira de viver seu amor.
Anne começou a acordar. Tristan se levantou da cadeira e se sentou na cama, ao lado dela. Pegou a rosa que havia colocado junto á sopa.
- Bem vinda á vida, minha rosa.- e entregou a rosa a ela. Um sorriso se abriu em seu rosto. Anne também sorriu. Estava feliz. Tristan se levantou e pegou a bandeja.
- Tome. Você precisa se alimentar. Ainda está quente.- Disse ele, colocando a bandeja no colo dela.
- Judy! Que bom que veio!
Judy se levantou e abraçou a amiga. Os três conversaram até altas horas da noite. Judy até dormiu na casa, que agora era deles.
A partir daquele dia, Anne ia sempre feliz para a escola. Na saída, Tristan estava sempre a esperando. Os dois e Judy saíam pela cidade, para mostrar o novo mundo a ele. Estavam felizes, pois estavam juntos. Mas Tristan não forçava a união deles. A hora certa haveria de chegar.
Mas parecia que esta felicidade estava perto do fim. A polícia tinha Tristan como suspeito da violação do sarcófago. A beleza de Tristan continuava fazendo ruas pararem. Mas Anne não tinha ciúmes. Sabia que nada era capaz de abalar sua união.
Naquela noite, algo especial haveria de acontecer. Como no jardim, Anne e Tristan chegaram em casa correndo, com Anne se escondendo e Tristan tentando pegá-la. Anne subiu correndo as escadas e entrou em seu quarto. Tristan foi atrás dela. Dentro do quarto, ela teve que parar de repente, para não bater na cama. Tristan não conseguiu parar e se segurou no braço dela. Os dois caíram na cama.
Tristan se virou para cima dela. Anne deu um último sorriso e então reparou que ela a olhava profundamente nos olhos. Então ela se deixou levar pelo sentimento que crescia dentro dela. Seus lábios se tocaram. Um frio subiu pelo corpo dela, que deu um árduo beijo em Tristan. Ela passava sua mão pelos cabelo lisos dele. Ele começou a beijar-lhe o pescoço, o ombro, o colo. E começou a desfazer o laço que prendia o vestido dela.
Anne não estava com medo, sabia que a partir daquele momento , ele estaria eternamente junto a ela para protejê-la e amá-la.
Ela também começou a tirar-lhe o paletó e viu como ele possuía um corpo bonito, torneado. Ele a viu como uma deusa. Magra, pele suave.
Pela primeira vez Anne sabia o que era prazer. Tristan se preocupou em tratá-la com muito carinho. Era um momento muito especial para eles.
Sim. Eles sabiam que aquele era o pecado mortal, mas aquele mesmo ato iria imortalizá-los.
A união entre um anjo e um demônio. Um ato reprovado, mas o amor foi mais forte e rompeu os limites.
Naquele mesmo momento, a polícia batia à porta de Allan, perguntando por Tristan. Allan, com muito ódio dele, pois estava junto á Anne, a quem queria, disse onde estavam e ainda falou que Tristan havia seguestrado Anne.
A polícia arrombou a porta da casa de Anne. Quando chegaram ao quarto, encontraram Anne e Tristan deitados. Ela estava recostada ao peito dele. Allan, vendo aquela cena, ficou com mais ódio. Seus olhos refletiam ódio.
Anne acordou assustada, se enrolou no lençol, perguntando:
- O que está acontecendo?
Um policial gritou:
- Não se mova, Tristan! Você está preso!
Tristan se levantou com calma. Anne o abraçou e gritou:
- Vocês não vão levá-lo!
Dois policiais se dirigiram a ela, separando-a de Tristan:
- Venha senhorita. Você está bem?
O resto dos policiais o algemaram. Ele não resistiu. Allan disse:
- Ponha uma roupa. Você vai ver seu "queridinho" sendo preso.
Antes de sair, Tristan disse:
- Não se preocupe, doce amor. Agora ninguém pode nos separar.
Uma lágrima rolou dos olhos tristes dela.
Os policiais o puxaram com força. Anne correu em direção a ele. Mas Allan a segurou fortemente pelo braço, chegando a machucá-la. Sua dor e tristeza se uniram. Anne começou a soluçar. Não conseguia parar de chorar. Então gritou:
- Tristan!
Na delegacia, um dos policiais deu um golpe de cacetete no rosto de Tristan, o que fez um corte em sua testa, logo acima do olho.
Quando chegou á delegacia, Anne correu para a sela de seu amado. Vendo o corte em sua testa, perguntou:
- O que fizeram com você, meu amor?
- Não se preocupe, não é nada.
Ele reparou o machucado no braço dela:
- O que é isto? Aquele canalha te machucou?
Naquele instante Judy chegou, correndo em direção aos dois:
- Vim o mais rápido que pude! O que aconteceu?
- Eu ainda não sei porque ele foi preso, Judy.
Os policiais estavam bem á frente da sela, a cerca de cinco metros, interrogando Allan. As duas se dirigiram ao delegado:
- Por que o rapaz está preso?- Perguntou Judy.
- O senhor Allan apresentou queixa de seqüestro de sua namorada, a senhorita Anne.
- O que?- Indagou Judy.
- Allan você sabe que isso não é verdade! Eu nem sou sua namora...
Allan lhe desferiu um forte tapa na cara, gritando:
- Cala a boca, sua vagabunda! Agora você não tem saída! Você é minha!
Anne caiu no chão com o tapa. Seu rosto estava vermelho. Judy se abaixou rapidamente para ajudar a amiga.
Era possível ver fogo nos olhos de Tristan que presenciando aquela cena contra sua amada, gritou:
- O que você está fazendo, Allan?!
Então jogou a cabeça para traz, de modo que sua face se voltou para o céu, e abriu os braços, desferindo um estridente grito:
- Maldito!
Um enorme clarão caiu sobre ele. Todos que estavam a sua volta tamparam os olhos. Os olhos de Tristan se tornaram amarelos. Seus caninos cresceram, um par de asas negras nasceu de suas costas. O amor e o ódio dele se transformaram em uma realidade física, fazendo o demônio voltar á sua forma original.
As grades da sela se derreteram. Anne ainda estava ao chão. Tristan se aproximou dela e tocou suas feridas. Um ar morno cobriu o local das feridas por um instante. Depois a pegou no colo e saiu pela porta.
- Venha Judy. Você faz parte de nós.
Judy se apressou para acompanhá-los.
Assim que saíram o clarão na sala se apagou. Allan e os guardas não estavam entendendo o que havia acontecido. O delegado pulou ao telefone:
- Preciso de reforços!
Tristan estava andando no meio da rua, acompanhado de Judy e com Anne em seus braços. Ela estava sonolenta. Era manhã cedo e as pessoas que estavam saindo de casa, que eram maioria, paravam, assustadas para ver aquela cena. A beleza do demônio não havia mudado pela sua transformação.
E andaram por quinze minutos, até vários carros da polícia os cercarem a uma certa distância. Uma voz saiu do megafone:
- Pare aí ou iremos atirar!
Tristan não parou. Um tiro foi disparado e o acertou pelas costas.
Ele estava indo ao chão, mas ao reparar que ia cair sobre Anne, deu um giro no corpo e caiu de costas.
Anne se ajoelhou ao seu lado.
- Por que fez isso? Você está ferido.
- Eu estou bem...Tenho que te proteger, querida Anne.
Ele tentou se levantar, mas os policiais, com medo do que aquela criatura poderia fazer, começaram a atirar.
Judy deu um grito e se deitou ao chão.
Anne cobriu o demônio com seus braços e logo depois duas enormes asas, como de cisnes, os cobriu.
Ao sessar os tiros, Tristan sentiu algo caindo em seu rosto. Era sangue e lágrimas. Percebendo o que se passava, olhou rapidamente para o, agora, anjo. Anne, com a respiração difícil, sussurrou:
- Não, querido Tristan. Eu tenho que te proteger.- E caiu sobre o colo de Tristan.
Suas asas, antes brancas, estavam vermelhas. E seu vestido, antes rosa, Também estava vermelho.
- Acorde, Anne! Não me deixe!
O demônio se levantou, a segurando no colo e ao mesmo tempo que levantou vôo, gritou:
- Assassinos!
Judy se levantou, olhou para o sangue no chão, olhou para Tristan voando e gritou á sua amiga:
- Anne, não nos deixe!
A frase ecoou por todas as partes. Judy pôs-se a chorar pela amiga.
Tristan pousou á porta de um hospital e entrou correndo. Em meio á sala de emergência, gritou:
- Ela está morrendo!
Algumas das pessoas presentes gritaram ao ver os dois seres. Um médico correu pelo corredor e gritou em meio ao silêncio:
- Por aqui! Rápido!
Ele acompanhou o médico até uma sala de cirurgia.
- Deite-a aqui e saia! Enfermeiras!
Tristan saiu andando para trás e chorando, sempre olhando para o rosto de Anne. Fora da sala uma enfermeira passou por ele e perguntou:
- Quem são vocês, afinal?
- Somos os animais do céu e do inferno.
A enfermeira entendeu, e se afastou, de olhos baixos.
Depois de vinte minutos, o médico saiu pela sala, se dirigindo vagarosamente a ele.
- Não sei como lhe dizer isto...
Tristan estava imóvel, com os olhos tristes, fixos na porta da sala.
- Sinto muito.- Disse o médico.
O demônio começou a andar como um zumbi em direção á sala. O médico deu um passo para traz, abrindo caminho para ele.
Ao tocar na porta, disse:
- Obrigado, doutor.
O médico, olhando por um instante para ele, teve um leve sorriso em sua boca, mas logo ficou sério.
Tristan se ajoelhou ao lado da mesa onde sua eterna amada estava. Lágrimas começaram a correr de seus olhos. Revoltado, começou a gritar:
- Anne! Por que fizeram isto com ela, malditos! Anne!
1º Final
Ainda chorando, cerrou suas mãos sobre o chão e apoiou sua cabeça nelas. Então ouviu um sussurro:
- Eles nunca mais irão nos separar. Porque, agora, somos um só. Porque, agora, somos imortais.
Tristan levantou a cabeça e viu Anne flutuando logo a sua frente. Emocionado e feliz, seu choro se misturou com um maravilhoso sorriso.. Anne estava viva! Ela estendeu seus braços e o ajudou a levantar. Agora era a vez dele se sentir seguros entre os braços dela.
- Chore, meu amor. Chore. Porque este é um choro de felicidade.
Anne viu que o ferimento da primeira bala ainda estava no ombro dele. Ela cobriu o ferimento com a mão, em formato de concha. Depois tirou a mão e a fechou, como se estivesse segurando algo. A ferida em seu ombro não existia mais. Anne abriu a mão e deixou cair o projétil.
Ele, feliz com tudo aquilo, lhe beijou carinhosamente. Se ela estava viva , queria dizer que sua união havia se feito por inteiro. A conseqüência disso era um filho.
- Então...
Um sorriso se abriu no rosto de Anne. O mais belo e feliz de todos os sorrisos, pensou ele.
Deram as mãos um para o outro e quanto estavam saindo da sala, o médico entrou. Vendo o anjo vivo, se emocionou.
- Obrigado, doutor. Deus lhe deu o poder do milagre.- Disse Tristan.
Ao sair do hospital , levantaram um vôo gracioso, em direção á casa deles.
No meio do caminho, Tristan parou de repente.
- E o que iremos fazer com aquele desgraçado do Allan?
- Não se preocupe, querido. Seu julgamento não irá falhar. Ele pagará por tudo.
Chegando á casa, viram Judy na varanda, de cabeça baixa, chorando. Silenciosamente, se aproximaram e tocaram sua cabeça.
Quando levantou o rosto deu um pulo de alegria e abraçou os dois.
- Anne! Achei que tivesse morrido. Achei que nunca mais teria sua companhia.
- Não se preocupe. Isso não irá acontecer.
As duas se sentaram no chão e Anne continuou:
- Gostaria de lhe fazer um pedido. Quer ser a madrinha de nosso filho?
O rosto de Judy se alegrou ainda mais.
- Ai meu Deus! Eu...Eu não acredito! Por isso você está viva!
- Escute, Judy.- Disse Tristan.- Nós vamos morar agora no pico da montanha á oeste da cidade.
- Ah não! Vocês não vão me abandonar!
Anne a acalmou:
- Não se preocupe! Todos os dias viremos lhe visitar!
Ele a interrompeu.
- Preste atenção. Queremos que você encontre a pessoa certa pra você. Queremos que tenho lindos filhos e que seja feliz junto a eles.
Emocionada, Judy começou a chorar de novo.
- Não chore amiga! Não há motivos para isso!
- Está bem. Mas só se vocês me prometerem que sempre virão me visitar, mesmo quando eu for velhinha, viu?
Os dois a abraçaram, rindo.
Nove meses depois nasceu Youko. Um belo menino, muito parecido com o pai.
Allan foi preso e condenado a um ano e meio de prisão, por falso testemunho. Mas sua pena real veio mais tarde, perante Deus, como Anne previu.
Até o fim foram unidos. Morreram trezentos anos após sua união, no mesmo dia. Mas a morte não é o fim. É apenas o início. O que eles consideravam imortalidade não era a vida eterna como seres de carne e osso, mas imortalidade em espírito, pois o amor é eterno.




2º Final
- Anne! Por que fizeram isso com ela, malditos! Anne!
Estava com os punhos cerrados ao chão, com a cabeça apoiada neles. Chorava a morte de sua amada.
Tomou uma decisão. Se levantou, pegou Anne no colo e saiu do hospital em direção ao cemitério.
Lá, se dirigiu ao antigo sarcófago que estava cercado de policiais. Eles, vendo os dois chegarem, correram para trás dos carros. Pela descrição do delegado, perceberam que era Tristan.
Ao lado do sarcófago, o demônio se ajoelhou e colocou Anne deitada na grama. Ele passou a mão no rosto dela, retirando-lhe o cabelo do rosto. E então deu-lhe um último beijo.
Os policiais estavam apenas observando, mas um deles gritou:
- Afaste-se do corpo, Tristan!
Tristan estava ajoelhado em uma perna, com o braço apoiado na outra perna, de costas para os policiais. Disse sem se virar:
- Ela é um anjo!
Ele virou o rosto. Seus olhos estavam vermelhos. Os policiais se assustaram e deram alguns passos para trás.
De repente Tristan sumiu de onde estava e apareceu em frente aos policiais, com a palma da mão aberta em direção a eles. Uma bola de luz saiu de sua mão. Os policiais voaram longe. Os outros começaram a atirar em direção a ele.
Ele também continuou atacando. Mas seus movimentos começaram a ficar cada vez mais lentos até uma hora que não suportou mais os tiros. Parou ajoelhado no chão com sangue escorrendo pelo corpo. Se levantou com dificuldade e andou em direção ao corpo de Anne.
Novamente se ajoelhou ao lado dela, deu-lhe um beijo na testa e disse:
- Te amo, meu Anjo da Guarda.
E caiu ao seu lado. Uma lágrima rolou por seu rosto. Foi seu último sinal de vida. Estava morto.
Seus corpos começaram a brilhar. Pareciam evaporar. E permaneceram assim até sumirem.
Ninguém sabe para onde foram, se ficaram juntos. O sarcófago continua no centro do cemitério, mas vazio.
Judy Ficou muito abalada, mas, após muito tempo, conseguiu se recuperar e hoje é está casada e tem um casal de filhos: Tristan e Anne. Está morando na casa dos amigos mortos.
Eles podem ter morrido, mas seu ideal não. Hoje ainda existem pessoas que se amam fortemente, sendo capazes de fazer qualquer coisa um pelo outro.
Mas quem sabe, no futuro, eles não voltam para viver novamente seu intenso amor?







^Trinith_Zeugma^
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